domingo, 29 de janeiro de 2012

Manifesto pelo Pinheirinho

O Firula aproveita para divulgar o Manifesto e pedir a sua colaboração.

Aproveitando para pedir licença e reproduzir o texto do ótimo blog Sem Juízo, por Marcelo Semer, bem como o texto do Manifesto.

"Elaborado pelo procurador do Estado Marcio Sotelo Felippe, e encabeçado pelo professor Fábio Konder Comparato, ao lado de dezenas de juristas, segue anexo o Manifesto do Pinheirinho, para encaminhamento à Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA da ação do governo do Estado que, cumprindo de forma abrupta e violenta ordem de reintegração de posse desalojou e desbarigou mais de mil e quinhentas famílias, em total desprezo à dignidade humana como valor constitucional.

Como diz o manifesto, mesmo se legítima a ordem, "o governo do Estado não poderia omitir-se diante da obrigação ética e constitucional de tomar, antecipadamente, medidas para que a população atingida tivesse preservado seu direito humano à moradia, garantia básica e pressuposto de outras garantias, como trabalho, educação e saúde".

Na verdade, a reintegração vem se somando a outros episódios da escalada da violência estatal em São Paulo, em nome da imposição de uma doutrina da disciplina e da ordem, da dor e do sofrimento."


Manifesto pela denúncia do caso Pinheirinho à Comissão Interamericana de Direitos Humanos


"No dia 22 de janeiro de 2012, às 5,30hs. da manhã, a Polícia Militar de São Paulo iniciou o cumprimento de ordem judicial para desocupação do Pinheirinho, bairro situado em São José dos Campos e habitado por cerca de seis mil pessoas.

A operação interrompeu bruscamente negociações que se desenrolavam envolvendo as partes judiciais, parlamentares, governo do Estado de São Paulo e governo federal.

O governo do Estado autorizou a operação de forma violenta e sem tomar qualquer providência para cumprir o seu dever constitucional de zelar pela integridade da população, inclusive crianças, idosos e doentes.

O desabrigo e as condições em que se encontram neste momento as pessoas atingidas são atos de desumanidade e grave violação dos direitos humanos.

A conduta das autoridades estaduais contrariou princípios básicos, consagrados pela Constituição e por inúmeros instrumentos internacionais de defesa dos direitos humanos, ao determinar a prevalência de um alegado direito patrimonial sobre as garantias de bem-estar e de sobrevivência digna de seis mil pessoas.

Verificam-se, de plano, ofensas ao artigo 5º, nos. 1 e 2, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de São José), que estabelecem que toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral, e que ninguém deve ser submetido a tratos cruéis, desumanos ou degradantes.

Ainda que se admitisse a legitimidade da ordem executada pela Polícia Militar, o governo do Estado não poderia omitir-se diante da obrigação ética e constitucional de tomar, antecipadamente, medidas para que a população atingida tivesse preservado seu direito humano à moradia, garantia básica e pressuposto de outras garantias, como trabalho, educação e saúde.

Há uma escalada de violência estatal em São Paulo que deve ser detida. Estudantes, dependentes químicos e agora uma população de seis mil pessoas já sentiram o peso de um Estado que se torna mais e mais um aparato repressivo voltado para esmagar qualquer conduta que não se enquadre nos limites estreitos, desumanos e mesquinhos daquilo que as autoridades estaduais pensam ser “lei e ordem”.

É preciso pôr cobro a esse estado de coisas.

Os abaixo-assinados vêm a público expor indignação e inconformismo diante desses recentes acontecimentos e das cenas desumanas e degradantes do dia 22 de janeiro em São José dos Campos.

Denunciam esses atos como imorais e inconstitucionais e exigem, em nome dos princípios republicanos, apuração e sanções.

Conclamam pessoas e entidades comprometidas com a democracia, com os direitos da pessoa humana, com o progresso social e com a construção de um país solidário e fraterno a se mobilizarem para, entre outras medidas, levar à Comissão Interamericana de Direitos Humanos a conduta do governo do Estado de São Paulo.

Isto é um imperativo ético e jurídico para que nunca mais brasileiros sejam submetidos a condições degradantes por ação do Estado."


O Firula pede para que você deixe a inércia de lado e contribua para combater esse absurdo. Se a solidariedade, a compaixão e o senso de justiça forem maiores que a sua preguiça, o seu ego e a sua indiferença, é só clicar aqui e deixar sua assinatura.

Nós e os segregados do Pinheirinho agradecemos.

sábado, 28 de janeiro de 2012

O Firula pede ponderação, apenas, ponderação

Antes de comentar o caso do Pinheirinho, queria falar de outro fato decepcionante.

É triste ver que a veiculação e propagação do deplorável absurdo que acontece no Pinheirinho é menor que as polêmicas do BBB ou que as efêmeras pseudo-celebridades, como a Luiza, nas redes sociais.

Não, não me venham com esse discurso pronto de que eu estou sendo chato ou bancando o pseudo-intelectual, intelectual, falso preocupado com a situação social ou seja lá o que for. Não estou tentando "bancar o Carlos Nascimento" ou algo do tipo.

Sem dúvida alguma, também considero que as coisas fúteis, engraçadas e afins também possuem sua devida importância. A vida também é feita de alegrias e frivolidades. Elas, com toda a certeza, também são importantes. Exemplo pessoal mesmo é que detesto não ter um jogo de futebol no meu domingo.

O mote está no ponto da gigantesca desproporção em relação ao que é propagado, com o grande exemplo dos últimos acontecimentos, nas redes sociais.

Tenho a leve impressão de que a preguiça em pensar e o descaso com o que tenha certa relevância aumentam em progressões muito maiores que o interesse nos assuntos considerados "chatos", "intelectuais" ou do gênero. Acontece que tais assuntos "entediantes" também fazem parte de nossas vidas e por isso não devem ser jogados ao vento.

É impressionante como qualquer assunto que ultrapasse "140 caracteres" ou exija um pensamento mais aprofundado é descartado ou ignorado.

Sejamos razoáveis e procuremos equilibrar um pouco essa equação. Não estou pedindo pra que paremos com os assuntos engraçados ou fúteis (lembra o que eu falei aqui acima sobre a importância desses pontos? Se não lembra, deixa a preguiça de lado e volta lá!) e comentemos apenas assuntos taxados como "sérios". Não, longe disso! Queria ver apenas uma atenção ao que também é relevante. Afinal, não há razão em cobrar mudanças no cenário presente se nós mesmos aplaudimos o circo que nos apresentam.

Quanto ao que ocorre no Pinheirinho, a situação é pra lá de assustadora. 

Dois fatos se tornam aparentemente claros. O primeiro fato é a grande - e não nova - influência e poder de banqueiros. O segundo é a óbvia - e antiga - corrupção do Poder Judiciário.

A realidade é antiga, não há novidade no domínio que os banqueiros exercem, mas certos fatos ultrapassam qualquer senso de humanidade. Fico questionando o porquê de tanta ganância e ausência de sentimentos. Sim, ausência de sentimentos, sim! Não me venham com esse discurso que a propriedade é do "digníssimo" e "respeitável" Sr. Naji Nahas e aí se resolve a questão. Não é por aí mesmo.

Ponderemos. O Sr. Naji Nahas é empresário muito bem sucedido e possuidor de grandes quantias financeiras. Os moradores do Pinheirinho trabalham arduamente todos os dias para garantir a sua sobrevivência (isso, sobrevivência! Não é para ir ao shopping comprar roupas ou ir pra night mais falada! Lutam para garantir o seu mínimo existencial!). Agora, digam-me se é razoável expulsar de suas casas esses inúmeros trabalhadores, pois o Sr. Nahas simplesmente resolveu reivindicar umas de suas inúmeras propriedades? 

Cabe lembrar que o Pinheirinho pertencia ao Estado e, sem explicações, foi parar nas mãos do Sr. Nahas. Ademais, importante recordar que o Sr. Nahas também já foi preso (junto ao Sr. Daniel Dantas) em decorrência da Operação Satiagraha, aquela que investigou desvio de verbas públicas, corrupção, entre outros atos ilícitos.

Digam-me! Onde ficam a função social da propriedade, o Princípio da Razoabilidade, o Princípio da Proporcionalidade?

Quanto ao segundo ponto, o que mais me decepciona é que realmente estamos vivendo a não menos falada "ditadura do Judiciário".

A rede de influências, corrupção e favorecimento de interesses particulares é tão forte no âmbito do Poder das Togas que até o Conselho Nacional de Justiça (aquele que deve fiscalizar alguns "ilustres" magistrados) vem sofrendo ataques e esvaziamento de suas atribuições.

É impressionante como absurdos como esses do Pinheirinho chegam ao ponto de serem concretizados simplesmente porque estão pautados na lei. É triste como a legitimidade, conferida pelo povo, é mitigada ao ponto de extirpar qualquer resquício de dignidade humana.

Não menos triste e preocupante, é que esse mesmo povo, legítimo proprietário do poder, considera mais relevante o que a Luiza anda fazendo do que o "chato" assunto do Pinheirinho.

Bom, "polêmica" criada. Desabafo feito. Parabéns pra você que fugiu à regra e chegou até aqui. E agora, o que faremos para tentar mudar alguma coisa?

Aceito sugestões, até as frívolas!





"Uma Ninhada de Tucano
de uma noite para o dia
Veio do mundo afora
pondo o povo em perigo
Em pleno final de semana
enquanto o povo dormia
Invadiram o acampamento
numa maior covardia
Todo mundo acordou
chamando o seu companheiro
pois já haviam tomado
o acampamento inteiro
Homem, mulher e criança gritavam
desesperados, dizendo um para o outro:
"O Pinheirinho está tomado"
Era o batalhão de choque
veio a cavalaria
Para expulsar o povo
numa maior covardia
Jovem...jogavam gás de pimenta
sufocando todo mundo
tratando os trabalhadores
como sendo vagabundos
A juíza e o prefeito,
de longe nos assistindo
A comunidade chorando,
enquanto os dois estavam rindo.
Depois de nos jogar na rua,
segue a perseguição
Não sei se eles são de pedra,
ou gente sem coração.
Parece mais uma guerra,
onde isso já se viu?
Ou será que nós somos
outro país no Brasil."